quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Pastor, posso tomar uma cerveja?



Chega o fim de ano e com ele várias ocasiões em que alguns cristãos se veem em um dilema, a saber: “posso ou não posso tomar uma cerveja?” Enquanto muitos ficam com água na boca ou de “boca seca” de vontade, outros sem pestanejar bebem sem culpa, de consciência tranquila. Aqui e ali os pastores são convidados a fazer alguns esclarecimentos quanto ao assunto. Que o embriagar-se é pecado claramente proibido nas Escrituras é evidente. Mas a questão aqui é o beber moderadamente, posso ou não posso? Via de regra, a grande vilã é a cerveja, vinho e champanhe estão presentes até mesmo em festas de fim de ano das igrejas. 

Quanto a este assunto, não estamos às escuras, de maneira especial o apóstolo Paulo tratou de questões semelhantes a esta, é o que encontramos a partir do capítulo 14 da sua carta aos romanos, o leitor em dúvida faz bem em ler.

Conhecer um pouco do contexto em que o apóstolo escreve esta carta nos ajuda muito. A igreja de Roma contava com duas classes principais de pessoas, “judeus e gentios” embora na sua maioria fosse formada por gentios cf. 1.6.
Neste contexto os chamados “débil e fracos” são parte dos judeus e dos gentios que frequentavam as sinagogas e viviam segundo os costumes judaicos, observando as normas alimentares prescrita na lei  cf. 14.14,20. Alguns haviam vivido por muito tempo sob o regime dos ritos da lei mosaica, e nutridos neles desde a infância; por isso, renunciá-los agora não era algo tão simples como o leitor possa pensar; os outros que jamais aprenderam tais hábitos se recusavam a obedecer este jugo de costumes. Este era o grande problema, os que viviam sob os ritos da lei mosaica queriam impor este comportamento a todos os demais da igreja. Esta era a debilidade e a fraqueza deles, escandalizavam-se com coisas não-essenciais ao evangelho como “comida e bebida”.
Mas havia uma deficiência mútua, do débil e fraco porque ainda estavam presos às sombras da lei mosaica; do forte e sábio porque sabendo do escândalo comia e bebia na presença do débil e fraco. Assim, menosprezando, ignorando e até mesmo ridicularizando a fé fraca e supersticiosa do fraco.
Lições da passagem bíblica:
No aspecto positivo devemos:
-          Aceitar os que são fracos (imaturos), na fé; 14:1
-          Aceitá-lo porque Deus o aceitou; vs 2-3
-          Aceitá-lo porque Cristo morreu e ressuscitou para ser Senhor de todos;
vs 4 e 9
-          Aceitá-lo porque ele é nosso irmão; vs 10
-          Aceitá-lo porque o reino é mais importante do que comida, bebida e distinção de dia; vs 17

No aspecto negativo:
-          Não discutir assuntos controvertidos com eles; vs 2
-          Não desprezar nem condenar o fraco; vs 2-3
-          Não destruir a obra de Deus; isso se refere à comunidade cristã, seus hábitos não podem causar divisão, contenda, intriga na comunidade cristã; vs 20
-          Não devemos viver para agradar a nós mesmos; 15:1
-          Cristo nos deu exemplo e não viveu para si mesmo; 15:3

Como devemos acolher os fracos?
-          Devemos acolher os fracos assim como Cristo nos acolheu; 15:7
Este último ponto talvez seja o que Paulo pretende deixar claro para nós, que essas coisas não devem servir de divisão, intrigas entre os irmãos, antes devemos acolher uns aos outros. Para viver em comunhão eu não posso viver agradando a mim mesmo. Então às vezes devemos deixar de comer ou beber aquilo que queremos para que nossa comunhão se fortaleça.           

Mas voltando à questão em foco, veja que o apóstolo resolve o problema colocando “comida, bebida e dia” na categoria de “não-essenciais” e pessoais
“Um crê que tudo pode comer, mas o débil come legumes; quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come... Um faz diferença entre dia e dia; outro julga igual todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente” 14.2-3,5.

Era muito difícil para o judeu que vivera sob a tutela da lei deixar de reverenciar certos dias, e tocar alguns alimentos. O sinal inconteste da debilidade e fraqueza deles era defender que tais atitudes contribuíam para a piedade cristã, ou que era um grande sinal de vida piedosa. Ora, o reino de Deus “não é comida nem bebida” cf verso 17, por isso, não podemos associar vida piedosa à simples questão de “beber ou não beber (cerveja)” antes, o reino de Deus, a vida piedosa está associada à “justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” verso 17.
Pastor, eu posso tomar uma cerveja? “... Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente” vs 5 e “cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” vs12. O que você não pode fazer, porque a Bíblia não te autoriza fazer é inferir que o que bebe é imaturo e mundano e o que não bebe é santo e piedoso, isso é um equívoco terrível.
Pastor, eu posso tomar uma cerveja? Sim, você pode se isso não for causar constrangimento, escândalo a um irmão fraco na fé. Para que isso não aconteça você deve evitar fazer isso em locais públicos, na presença de pessoas que não fazem parte do seu círculo mais íntimo de relacionamento. Não, você não pode se estiver na presença de fracos e débeis, se isso for motivo de intriga entre você e seu irmão. Sim e Não é a melhor resposta. Não significa ser hipócrita, pelo contrário significa ser cristão maduro, preocupado com a fé do outro, significa ter domínio próprio.
E por fim, quando menciona o débil e o fraco obviamente o apóstolo não pensava nos presbíteros, diáconos, estes por exigência do ofício deveriam ser sábios e fortes. Parece que em nossos dias há uma inversão de “temor”. Tememos ser surpreendidos pelo pastor, pelo presbítero, pelo diácono, pelo evangelista, pelo missionário, pelo professor da Escola Dominical e pouco nos preocupamos com os fracos, com o novo convertido, com os que ainda bebem o genuíno leite, que apesar de convertidos ainda lutam com o ranço do catolicismo, do misticismo e etc. A recomendação apostólica é que nos preocupemos com estes, que não possuem nenhum cargo na igreja.
“Quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” I Co 10.31; “E tudo o que fizerdes, seja em palavra seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” Col 3:17; “Assim brilhe também vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” Mt 5:16.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

“Então é Natal, a Festa Cristã...”


“E o Filho de Deus se fez carne e habitou entre nós” isso é Natal!
Mas porque será que este fato incomoda tanto? Porque será que querem que isso fique no esquecimento? Foi por mal que em Cristo Deus foi chamado Emanuel?
É certo que o natal existe por causa de Cristo. No entanto, hoje é possível um natal sem Cristo. Como? Alguém poderia perguntar – simples respondo eu: Basta que nossa mesa esteja tão farta de frutas e comidas deliciosas; basta que nosso coração esteja tão “alegre” com o efeito da bebida; basta que nossa atenção esteja toda voltada àqueles que não víamos há anos; basta pensar que tudo não passa de uma confraternização e pronto, o Cristo do Natal foi substituído, e teremos um Feliz Natal sem Jesus.
Isso funciona muito bem para os adultos. Pobres adultos! Glutões e beberrões, cujos corações estão muito longe do reino de Deus, “que nem é comida nem bebida, mas alegria no Espírito Santo”, nem mesmo neste dia despertam suas consciências de que o natal é a lembrança de que Deus em Cristo nos visitou, de que no Cristo Encarnado e somente Nele há esperança de salvação eterna, para o enfermo e para são, para o rico e para o pobre, para o homem e para a mulher, para o branco e para o negro, para o adulto e para a criança, isso é natal, por isso uma festa cristã, que tem como principal personagem: Cristo.
Mas o que observamos é a grande capacidade que o homem caído tem de corromper as boas coisas de Deus. Comida e bebida são coisas boas e com elas deveríamos glorificar a Deus, e o que fazemos? Enchemos a cara e passamos mal de tanto comer. No Natal juntamente com a ansiedade de receber presentes, a comida e a bebida servem para nós de distrações, nos afastando do verdadeiro sentido de celebração, Deus conosco, Deus visitando seu povo, Deus habitou entre nós, ele se fez carne!
Já para as crianças substituíram o Cristo por coisas igualmente banais quando comparada a “coisa” principal. Uma massa de crianças que são esquecidas o ano todo são lembradas agora, alvos dos mais variados presentes: bonecas, bolas, jogos e etc. Elas também são pegas pelo estômago com doces, frutas e comidas gostosas. Isso é o natal para elas. Estas coisas são o verdadeiro motivo para a alegria delas, neste dia não são informadas que “delas é o reino dos céus”, que Cristo repreende duramente todos àqueles que tentam obstaculá-las de irem a Cristo. Não deveria ser assim, pois, no dia de Natal é mais um grande dia para que elas sejam lembradas das palavras de Jesus “Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraçais” pobres crianças!
Não é sem razão que pessoas extremamente miseráveis, que viveram o ano todo em extrema pobreza, no natal tenham suas mesas fartas, suas geladeiras cheias de bebidas, um imenso peru ou grande pernil assando no forno, crianças miseráveis agora recebem presentes inimagináveis. E da mesma maneira que o povo blasfemou no deserto pela falta temporária de comida e bebida, nos esquecemos de Deus por um instante de mesa farta e geladeira cheia.
E o Papai Noel, o bom velhinho, o que dizer dele? Uma figura até simpática, bondosa, sempre sorridente, cheia de alegria e que traz esperanças de coisas boas. Mas até que ponto isso é verdade, é real? Mas este bom velhinho que aparece sempre sorridente e feliz, parece que não conhece o mundo que eu vivo, o mundo real da dor e do sofrimento. Por isso, estou com John Stott quando disse “o único Deus que eu creio é aquele que Nietzche, filósofo alemão do século 19, ridicularizou, chamando-o de Deus sobre a cruz. Porque no mundo real da dor, como adorar um Deus que fosse imune a ela?        O crucificado é Jesus por mim. Aquela figura que por um tempo, esteve solitária, retorcida, torturada sobre a cruz, com pregos lhe atravessando as mãos e os pés, com as costas dilaceradas distendidas, a testa sangrando nos pontos perfurados por espinhos, a boca seca, sedenta ao extremo, mergulhada na escuridão do esquecimento de Deus. O crucificado é o Deus por mim!” Este sim, enfrentou o mundo real da dor e do sofrimento, da vida e da morte, o mundo que eu vivo.
No Natal celebramos o dia que o Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade Santa, colocou de lado a sua imunidade para ser o Emanuel, para sentir a nossa dor, para sofrer a nossa morte, para ser tentado em todas as coisas, para que pelas “suas pisaduras fôssemos sarados”. Ele entrou no mundo real de carne e sangue, lágrimas e morte, se alegrou e chorou entre os homens.
Não foi por mal que Deus nos visitou na pessoa de seu Filho Jesus, mas foi para nos salvar, foi visando uma vida abundante para nós. O nascimento de Jesus faz com que nossos sofrimentos se tornem mais suportáveis à luz do Cristo crucificado.
As pessoas precisam saber disso. E que nesse Natal, ainda que a mesa esteja farta, ainda que o coração esteja cheio de alegria pelos familiares e amigos, ainda que haja confraternização e troca de presentes, ainda que as frutas decorem uma bela mesa no centro da sala, EU ME ALEGRAREI NO SENHOR. E mais que isso, todos os que estiverem comigo irão ouvir esta linda história de amor que começou antes na eternidade, manifestou-se na plenitude dos tempos com a encarnação e nascimento de Jesus, teve o seu ápice na sua morte e ressurreição.
E você? Lembre-se: se você se calar, é possível que as pessoas passem um Feliz Natal com você e sem Jesus. Se você se calar, é possível que a mesa farta, que as comidas gostosas, que o prazer de rever os parentes, tome o lugar de Cristo; mas, se você não se calar, o Cristo será lembrado, e a sua festa terá sentido.
“Então, bom natal...” Desejo a você sim uma mesa farta (a menos que o contrário seja absolutamente necessário) e, mais que isso, muito mais que isso, Eu desejo a você um Feliz Natal Com Jesus.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Dia Da Esposa De Pastor


Transcrevo abaixo texto de Charles Spurgeon 1834-1892.
“Se eu fosse uma jovem, e estivesse pensando em casar-me, certamente não me casaria com um ministro da Palavra, porque a posição de esposa de ministro é muito difícil para qualquer mulher. As igrejas não pagam dois salários aos pastores casados, um para o marido e outro para sua esposa; mas, em muitos casos, também procuram pelos serviços da esposa, quer estejam pagando por isso ou não. Também é esperado que a esposa de um pastor saiba tudo sobre a igreja, e, olhando por outro prisma, não é obrigação dela saber; no entanto, para algumas pessoas, ela é sempre culpada, tanto por saber tudo ou por não saber nada. Suas obrigações resumem-se a estar sempre em casa para atender a seu marido e sua família, e estar sempre fora de casa, visitando os membros da igreja, ou fazendo toda sorte de coisas por ele! Bem, é claro que isto é impossível; ela não pode estar à disposição de todos, e nem espera-se que ela agrade a todos. Seu marido não conseguiria fazer isto, e eu penso que ele seria um grande tolo, caso o tentasse; também estou convencido de que, se o marido não pode agradar a todos, muito menos o pode sua esposa. Certamente sempre haverá alguém descontente, especialmente se este alguém tinha esperanças de se tornar esposa de pastor. Dificuldades surgem continuamente até mesmo nas melhores igrejas; e, como disse antes, a posição da esposa do pastor é sempre muito difícil.
No entanto, penso que seu eu fosse uma jovem cristã, me casaria com um pastor cristão, caso eu conseguisse, porque existiria aí uma oportunidade de se realizar tantas boas obras, ao auxiliá-lo em seu serviço para Cristo. É uma grande ajuda para a causa de Deus manter o pastor em boas condições para seu trabalho. É função da esposa cuidar para que ele não esteja desconfortável em casa, a fim de que possa dar o máximo na preparação da pregação. A mulher cristã que desta forma ajuda seu marido a pregar melhor, é ela mesma uma pregadora da Palavra, ainda que nunca fale em público, tornando-se então extremamente útil para a igreja de Cristo, comprometida com o trabalho de seu marido”.       

Dia Da Bíblia


A Bíblia é a biblioteca do Espírito Santo; é o próprio Deus pregando; é o Livro didático da Escola do Espírito em que nós aprendemos tudo o que é necessário para a salvação em Cristo Jesus, e para as boas obras. A Bíblia é o instrumento de Deus para a nossa transformação, assim, quando lemos a Bíblia também somos lidos por ela “Enquanto interpretamos a Escritura, ela nos interpreta. Esquadrinhamos o texto, e o texto nos esquadrinha, expondo as nossas crenças, experiências e segredos”.
            Por toda a história da humanidade percebemos a influência da Bíblia. Conta-se de um ateu que chegou em uma ilha e começou a ensinar que Deus não existe e zombava das Escrituras e da fé dos moradores daquela ilha. Logo, o chefe da tribo lhe chamou e disse: Está vendo aquele forno antigo? Nele nós assávamos seres humanos para comer. Há muito tempo aprendemos na Bíblia que não devemos mais fazer isso. Mas, se o que diz é verdade, então, voltaremos às antigas práticas e o jantar de hoje será você! Mas, graças a influência transformadora da Bíblia na vida daquela tribo aquele ateu pôde ser convidado para jantar e não para ser O jantar.
            A Bíblia como diz o prefácio à Bíblia de Genebra é “... a luz para os nossos caminhos, a chave para o reino dos céus, nosso consolo na aflição, nosso escudo e espada contra satanás, a escola de toda sabedoria, o espelho em que contemplamos a face de Deus, o testemunho do seu favor, e o único alimento e nutrição de nossas almas”    A Bíblia é o livro por excelência, inspirado por Deus, mas escrito por homens; concebido nos céus, mas nascido na terra; odiado pelo inferno, mas pregado pela Igreja; perseguido pelo mundo, mas crido pelos eleitos de Deus.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Onde Estará Sócrates Agora?


Madrugada de domingo dia 04 de dezembro de 2011, por volta das 5 horas da manhã, faleceu o ex-jogador Sócrates Brasileiro, o “magrão”, conhecido nos países da bola, ídolo brasileiro e da torcida corinthiana, estava entre o seleto grupo de craques na Copa de 82.
            Dentro dos gramados “gênio”. Fora dos gramados, até nossos dias, um dos poucos jogadores de futebol a concluir um curso superior, formado em medicina e chamado de doutor, leitor e chamado de filósofo, politizado encabeçou o maior movimento democrático da história do futebol mundial, a conhecida “Democracia corinthiana”.    Amante da vida boêmia foi vencido pelo vício da bebida.
            O homem que recentemente numa entrevista[1] dizia não ter medo de nada encarou a morte. A morte que chega para todos, que nos apanha em momentos esperados e inesperados, que sem pedir licença invade os lares levando de nós amigos, conhecidos, vizinhos, familiares, nosso amor e etc. Certamente enquanto escrevo este post haverá amigos, familiares e quem sabe um amor enlutado pela morte de Sócrates.
            Mas deixando à parte o fenômeno “morte”, elevo-me a pensar, onde estaria Sócrates agora?
O cristianismo histórico tem posição clara e firme sobre o além da morte. Inclusive esta é a crença deste autor. Posição que não recebe lá muita simpatia. Muitos repelem a posição bíblica com um “tomara Deus” que eles estejam loucos, e que aquilo que eles acreditam sobre o destino eterno das pessoas não seja verdadeiro. O cristianismo histórico é difamado, porque dedica importância significativa sobre o destino das pessoas, apontando e descrevendo lugares onde passarão a eternidade. O cristianismo trata seriamente sobre o assunto, e por isso, convoca a todos a pensar seriamente pois “um dia” será a sua vez.
Mas infelizmente nossa natureza não pende àquilo que é sério, não gostamos de refletir sobre coisas de fato importantes, somos tomados por uma preguiça mental-espiritual. Por isso, muitos não atendem ao chamado do evangelho para refletir sobre estas coisas, antes preferem banalizar e tratar o assunto de forma desleixada e preguiçosa como foi o caso.
Não fosse a seriedade do assunto, deveríamos rir destas teorias banais. Por exemplo, para muitos Sócrates está “lá em cima” e de lá, com o calcanhar ajudou o Corinthians a ser penta campeão brasileiro; outros afirmam “seja lá onde ele estiver” estará feliz; alguns com viés mais cômico o colocaram ao lado de outros falecidos ex-jogadores tomando muita cerveja e com o fígado renovado. Eles estão até dispostos a admitirem o “fogo dos inferno” mas, isso sempre vem acompanhado de roda de samba, cigarro, cerveja gelada e mulher pelada; até admitem o diabo “dos inferno” mas, este diabo é o dono do bar, vende fiado, financia o samba, controla as mulheres e distribui cigarro para todo mundo.
Estes populares imaginários sobre o pós-morte tem características em comum: negam o fracasso, negam o terrível, aplacam a consciência.
a-    Negam o fracasso dizendo que “ele está feliz” afinal de contas viveu como tinha que viver, é exemplo para nós, de maneira alguma admitem que em sua existência na terra Sócrates tenha errado o alvo, tenha falhado como pessoa, como pai, como filho, que não cuidou do próprio corpo;
b-    Negam o terrível levando a vida boêmia daqui pra “lá”. Num ato de completo desespero não querem admitir que “lá” a “chapa é quente mano”, que “lá” sequer há quem molhe o dedo em água para esfregar a boca;
c-    E por fim, estes imaginários populares também aplacam a consciência, que vez por outra tenta dizer-nos que algo está errado conosco, que falhamos, e que precisamos de alguém que nos socorra em nossa miséria.
No evangelho Deus nos oferece Cristo como socorro, como única saída para o nosso fracasso, no evangelho Deus nos oferece “novos céus e nova terra”, e no mesmo evangelho nos adverte da perdição eterna como resultado óbvio de uma vida sem Cristo. A julgar pelos padrões do evangelho àqueles que perderam-se eternamente é ridículo desejar “Descanse em paz” porque neste lugar não há paz!
Dr. Sócrates, gênio da bola, filósofo, poeta, libertário, político, até onde sabemos e pelo que a sua vida nos revela, e ao menos que tenha sido regenerado e se arrependido para a salvação em plena convicção de fé em Cristo (e este autor tem extremo pesar em dizer isso) enfrenta agora a dura realidade daqueles que morreram sem Cristo, que recusaram a graça de Deus, que viraram as costas para o perdão oferecido em Cristo Jesus. E pior que isso, ainda aguarda o terrível dia da ira do Cordeiro, o dia da sentença de condenação eterna. Lamento profundamente! 
Mas para você que lê este post saiba que existem diante de nós dois caminhos, duas estradas, duas portas “a vida e a morte, a benção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas... amando o Senhor, teu Deus, dando ouvidos à sua voz e apegando-te a ele, pois disso depende a tua vida” Dt 30.19-20.


[1] Dia 26 de outubro de 2011 em entrevista a Marília Gabi Gabriela.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O Aborto e a Cultura Da Morte

Passada as eleições presidenciais o tema do aborto foi deixado um pouco de lado tanto na mídia quanto no cenário político. Não deveria, uma vez que em 2010 a cada hora ocorria 12 internações por aborto provocado segundo as informações do SUS. O médico Thomaz Gollop, diretor da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e coordenador do Grupo de Estudo sobre o Aborto afirma que em Pernambuco o aborto é a principal causa de morte.
            Não quero aqui minimizar a importância deste tema. Pelo contrário, considero-o de suma importância, no entanto, creio também que o aborto representa apenas um conflito de uma guerra muito maior que está diante de nós, uma guerra entre a visão cristã e as outras visões seculares sobre o valor da vida humana.
Neste artigo tenho por objetivo mostrar que o aborto é sempre mais do que aborto.[1] É a estrada larga que conduz a sociedade a um rompimento com o compromisso com a dignidade/santidade da vida humana. Que as outras visões seculares sobre o valor da vida humana tendem a criar em nossa sociedade uma verdadeira “Cultura da Morte”.
Chamo de cultura da morte aquela que garante a sociedade o direito de matar.
Não pretendo o título de “profeta alarmista”, mas, olhando para o que aconteceu nos EUA desde 1973, podemos ter um deslumbre de onde isto vai nos levar. Vamos aos fatos.
Em 1973 a Suprema Corte dos EUA decidiu no famoso caso Roe contra Wade[2] que um feto humano não é uma pessoa humana, portanto, não tem direito a vida, sendo assim, é legítimo destruí-lo. A Corte sentenciou que o feto não é gente e não tem nenhum direito em qualquer estágio da gravidez. Somente a mãe é gente, com plenos direitos de privacidade e escolha. O bebe no ventre da mãe pela ótica da cultura da morte, “pode” não ser considerado como um bebe, e sim, como um intruso, alguém indesejado, um agressor, um agente que milita contra a liberdade da mãe, um “demônio” e por isso, matá-lo é o mesmo que agir em legítima defesa.
A cultura da morte estabeleceu, ainda, que o aborto não deveria mais ser tratado como algo terrível, e sim como um bem positivo, entre outras coisas, uma maneira de melhorar a espécie, de garantir a liberdade e o direito de escolha de cada um. O aborto passou a ser um método eficiente de lidar com os problemas de superpopulação, possíveis defeitos congênitos, gravidez prematura e etc. o aborto deixou de ser tratado como um problema moral, criminoso e espiritual, sendo reduzido ao status de “assunto de saúde pública.”

Do Aborto ao Infanticídio
Apenas nove anos depois em 1982 agora com o “Caso do bebe” em Bloomington, Indiana, EUA, a América ultrapassou a linha – de matar o feto vivo no útero da mãe a matar o bebe vivo fora do útero da mãe – ou seja, do aborto para o infanticídio.
O bebe citado havia nascido com uma deformação no esôfago, o que tornava a digestão impossível. No entanto, havia 90% de probabilidades de sucesso numa cirurgia razoavelmente simples. Porém, os pais não autorizaram a cirurgia, e os médicos concordaram, dois tribunais de Indiana se recusaram a intervir no caso, mesmo cientes de que isso causaria a morte do bebe. Seis dias depois o bebe morrera de fome. A razão para não permitirem a cirurgia? O bebe também nascera com a Síndrome de Down.
Mais uma vez “a cultura da morte é aquela que garante a sociedade o direito de matar”. Ela diz que os pais devem ter permissão para matarem seus filhos deficientes, com o argumento de que “eles” não são pessoas de fato, porque não são auto-concientes. Sendo eles uma “não pessoa” são substituíveis, assim como os filhotes de cachorros, cavalos, gatos e etc, percebam que o argumento de “não pessoa” foi o mesmo utilizado para dar as pessoas o direito de realizar o aborto, provando que o fundamento desta filosofia de eliminar bebes defeituosos nasceu dos debates sobre o aborto.

Do Aborto Ao Infanticídio – Do Infanticídio Ao Suicídio Assistido
A cultura da morte vai ainda mais longe. Mais a frente, em 1997, o Estado de Oregon foi o primeiro estado americano a legalizar o suicídio assistido[3], que foi aprovado em plebiscito. Daí você pode perguntar assim: o que tem a ver aborto com eutanásia (suicídio assistido). Para responder a esta pergunta é só observar os argumentos que foram utilizados. A Suprema Corte utilizou-se do direito constitucional de aborto (conquistado em 1973, no caso Roe contra Wade) para validar o direito de suicídio assistido pelo estado. Mais que isso, elevaram ainda mais quando usaram a seguinte definição de liberdade “... o direito de fazer escolhas íntimas e pessoais... essencial a dignidade e autonomia pessoal... o direito de definir o próprio conceito de existência, importância, universo e mistério da vida humana” ora, o que poderia ser mais íntimo e pessoal do que o direito de escolher viver ou morrer?

Garantindo o Direito de Matar
Mas a cultura da morte não para por ai. O próximo passo é defender que todas as pessoas incapazes e em qualquer idade, podem e devem ser aniquiladas se assim for do consentimento dos seus familiares. No caso de pessoas incapazes de darem o seu consentimento, autorização para o suicídio assistido, um substituto poderá faze-lo. Mais uma vez uma fronteira foi rompida, de morte desejada para morte indesejada, passaram da eutanásia ao assassinato, como bem observou o teólogo Russel Hittinger, dizendo “isso já não é mais o direito de morrer; é o direito de alguns americanos matarem outros americanos”.
Recordando, a cultura da morte foi se instalando primeiro com o aborto em caso de estupro, depois por diversas razões; o próximo passo foi o infanticídio; do infanticídio chegamos ao suicídio assistido, também chamada de eutanásia, o próximo passo é assassinato de pessoas que não querem morrer, mas de acordo com a sociedade suas vidas não valem a pena serem vividas. A pergunta que você deve fazer é: o que motivou tudo isso?
O que motivou tudo isso foi uma visão deturpada do valor da vida humana. Uma visão construída nos pressupostos naturalistas que afirma que a espécie humana não é superior a todas as outras espécies biológicas, como bem afirmou Oliver Wendell Holmes[4] ao dizer “não vejo razão nenhuma para atribuir ao homem uma diferença importante de raça daquela pertencente a um balbuíno ou a um grão de areia”.
De acordo com a ética naturalista o corpo é apenas um instrumento para o prazer e nós temos o direito de fazer com ele o que bem entendermos, sem nenhuma importância moral, desde tirar a vida “do outro” seja o que está no útero ou fora dele como tirar a nossa própria vida.
E nós brasileiros, onde estamos? A legislação vigente no Brasil trata o aborto como crime exceto no caso de violência sexual, neste caso a legislação garante à mulher o direito de realizar o aborto até a 20ª semana de gestação. Os discursos mais recentes (não agora nas eleições) apontam para a descriminalização do aborto, equipando o Estado para oferecer às pessoas gratuitamente meios para a prática, acabando assim com as clínicas clandestinas, e por fim, reduzindo a questão do aborto ao status de “assunto de saúde pública”.
Com isso, a cultura da morte está com as portas abertas para fincar os pés em nosso país. Estamos fazendo o mesmo caminho iniciado em 1973 nos EUA. Os cristãos lutam contra o aborto. No entanto tentei mostrar que o aborto é somente um conflito, fruto de uma visão distorcida da vida humana, e que a guerra maior é entre a visão cristã e as visões seculares sobre o valor da vida humana.
Como este artigo não pretende de maneira alguma esgotar o assunto ofereço ao leitor em poucas linhas uma visão que creio ser uma visão bíblica sobre a vida humana.

Visão Bíblica sobre a Santidade/Dignidade da Vida Humana

Na perspectiva bíblica Deus criou os seres humanos. Deus criou o homem à sua imagem, e por isso, a vida é sagrada. Somente Deus pode definir os limites da nossa existência.
Há pelo menos duas razões principais pelos quais o sexto mandamento deve ser obedecido.

1 – O homem foi criado à imagem de Deus

A primeira razão é que o homem foi criado à imagem de Deus. Por isso, se não queremos profanar a imagem de Deus, não devemos fazer nenhuma ofensa ao nosso próximo, pois assassinar “é ofender a Deus e depreciar o Criador.”[5]
A doutrina da imagem de Deus é a razão por traz do sexto mandamento, e também a razão pela qual principalmente os cristãos devem se preocupar com o assassinato. O homem foi criado à imagem de Deus, e é esta convicção diz Michael Horton “que nos vincula ao nosso próximo e aos seus interesses, sem levar em conta se são crentes ou compartilham nossos valores ou ética, herança cultural ou lingüística.”[6]
Em Gênesis 9.6 temos a confirmação bíblica do que defendemos até agora, o texto diz: “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem”, assim, “o elemento mais hediondo no pecado de assassinato é o desprezo por Deus ao destruir a vida humana, que porta a Sua imagem.” [7]

Comentando a passagem bíblica acima diz Hoekema:
A razão pela qual o assassinato é descrito aqui em (Gn 9.6) como um crime tão hediondo que deve ser punido com a morte é que o homem que foi assassinado é alguém que refletia a imagem de Deus, era semelhante a Deus e representava Deus. Portanto, quando alguém mata um ser humano, não tira a vida dessa pessoa somente, mas ofende o próprio Deus que está refletido naquele indivíduo. Tocar na imagem de Deus é tocar no próprio Deus; matar a imagem de Deus é fazer violência ao próprio Deus.[8]

2 – A vida é um bem pessoal intransferível


            Calvino chama o assassinato conforme descrito no sexto mandamento de um “despojamento de toda humanidade.”[9]
            Nenhum indivíduo, nenhuma organização ou sociedade tem o direito de legalizar o assassinato de pessoas, a “valorização e proteção da vida como bem pessoal proíbe de forma categórica o suicídio, a eutanásia, o infanticídio, o feticídio e o genocídio.”[10]

Conclusão
Termino este artigo chamando a atenção aos nossos deveres em relação a este assunto. Recorrendo a confessionalidade presbiteriana, à nossa herança reformada. Na pergunta 135 o Catecismo Maior de Westminster diz:

Os deveres exigidos no sexto mandamento são todo o empenho cuidadoso e todos os esforços legítimos para a preservação de nossa vida e a de outros, resistindo a todos os pensamentos e propósitos, subjugando todas as paixões e evitando todas as ocasiões, tentações e práticas que tendem a tirar injustamente a vida de alguém...[11]

O Catecismo nesta questão inclui toda forma de pesquisa e planejamento voltados para a preservação da vida humana. Estudos científicos sobre causas e prevenções de doenças, pesquisas na agricultura para uma melhor produção de alimentos, construção de boas rodovias,[12] endurecimento e cumprimento das leis evitando a impunidade dos crimes contra a vida humana, a construção de bons hospitais, políticas públicas sociais voltados para a preservação da vida.
Isto que apontamos acima tem mais a ver com a sociedade num todo, mas há também no mandamento o aspecto individual, a contribuição individual para o cumprimento. 
Segundo Martinho Lutero, quebra o mandamento todo aquele que podendo fazer o bem ao próximo não o faz; podendo protegê-lo nega-lhe proteção; podendo cobrir o nu, deixa-o passar frio; negando-lhe o alimento deixa passar fome. Por isso, Deus chama de assassinos todos os que deixam a morte chegar ao próximo. Embora, não cometa o assassinato com as próprias mãos, faz tudo para que o próximo caia no precipício. O sexto mandamento proíbe a raiva e a ira em geral, proíbe fazer mal a alguém seja com gestos seja com palavras. A intenção do mandamento não somente é privar-nos de assassinar, mas de consentir o mal aos nossos semelhantes, e que devotemos a ele amor.[13]



[1] Colson, 155.
[2]
[3] Suicídio assistido é o direito de cada cidadão tirar a sua própria vida com plena assistência do Estado.
[4]
[5] Hans Ulrich REIFLER, A ética dos dez mandamentos, p. 113.
[6] Michael HORTON, A lei da perfeita liberdade, São Paulo-SP: Ed. Cultura Cristã, 2000, p. 132.
[7] Johannes Geerhardus VOS, O Catecismo Maior de Westminster comentado, p. 425.
[8] Anthony HOEKEMA. Criados a Imagem de Deus, São Paulo-SP: Ed. Cultura Cristã, 1999, p. 29.
[9] João CALVINO, As Institutas, livro II.VIII.40.
[10] Hans Ulrich REIFLER, A ética dos dez mandamentos,p. 113, para ver mais detalhes págs 121-140.
[11] O Catecismo Maior de Westminster, p. 135.
[12] Hans Ulrich REIFLER, A ética dos dez mandamentos, p. 111, aponta que no Brasil uma das maiores causa de mortes tem a ver com acidentes de transito.
[13] Martinho LUTERO, Catecismo Maior, págs. 62-65.