Chega o fim de ano e
com ele várias ocasiões em que alguns cristãos se veem em um dilema, a saber: “posso
ou não posso tomar uma cerveja?” Enquanto muitos ficam com água na boca ou de “boca seca” de vontade, outros sem pestanejar bebem sem culpa, de
consciência tranquila. Aqui e ali os pastores são convidados a fazer alguns
esclarecimentos quanto ao assunto. Que o embriagar-se é pecado claramente
proibido nas Escrituras é evidente. Mas a questão aqui é o beber moderadamente,
posso ou não posso? Via de regra, a grande vilã é a cerveja, vinho e champanhe estão
presentes até mesmo em festas de fim de ano das igrejas.
Quanto a este assunto, não estamos às escuras, de maneira especial o apóstolo Paulo tratou de questões semelhantes a esta, é o que encontramos a partir do capítulo 14 da sua carta aos romanos, o leitor em dúvida faz bem em ler.
Conhecer
um pouco do contexto em que o apóstolo escreve esta carta nos ajuda muito. A
igreja de Roma contava com duas classes principais de pessoas, “judeus e
gentios” embora na sua maioria fosse formada por gentios cf. 1.6.
Neste
contexto os chamados “débil e fracos” são parte dos judeus e dos gentios que frequentavam
as sinagogas e viviam segundo os costumes judaicos, observando as normas
alimentares prescrita na lei cf. 14.14,20.
Alguns haviam vivido por muito tempo sob o regime dos ritos da lei mosaica, e nutridos
neles desde a infância; por isso, renunciá-los agora não era algo tão simples
como o leitor possa pensar; os outros que jamais aprenderam tais hábitos se
recusavam a obedecer este jugo de costumes. Este era o grande problema, os que
viviam sob os ritos da lei mosaica queriam impor este comportamento a todos os
demais da igreja. Esta era a debilidade e a fraqueza deles, escandalizavam-se
com coisas não-essenciais ao evangelho como “comida e bebida”.
Mas
havia uma deficiência mútua, do débil e fraco porque ainda estavam presos às
sombras da lei mosaica; do forte e sábio porque sabendo do escândalo comia e
bebia na presença do débil e fraco. Assim, menosprezando, ignorando e até mesmo
ridicularizando a fé fraca e supersticiosa do fraco.
Lições
da passagem bíblica:
No
aspecto positivo devemos:
-
Aceitar os que são fracos (imaturos), na fé;
14:1
-
Aceitá-lo porque Deus o aceitou; vs 2-3
-
Aceitá-lo porque Cristo morreu e ressuscitou
para ser Senhor de todos;
vs
4 e 9
-
Aceitá-lo porque ele é nosso irmão; vs 10
-
Aceitá-lo porque o reino é mais importante do
que comida, bebida e distinção de dia; vs 17
No
aspecto negativo:
-
Não discutir assuntos controvertidos com eles;
vs 2
-
Não desprezar nem condenar o fraco; vs 2-3
-
Não destruir a obra de Deus; isso se refere à
comunidade cristã, seus hábitos não podem causar divisão, contenda, intriga na
comunidade cristã; vs 20
-
Não devemos viver para agradar a nós mesmos; 15:1
-
Cristo nos deu exemplo e não viveu para si
mesmo; 15:3
Como
devemos acolher os fracos?
-
Devemos acolher os fracos assim como Cristo
nos acolheu; 15:7
Este último ponto talvez seja o que Paulo
pretende deixar claro para nós, que essas coisas não devem servir de divisão, intrigas
entre os irmãos, antes devemos acolher uns aos outros. Para viver em comunhão
eu não posso viver agradando a mim mesmo. Então às vezes devemos deixar de
comer ou beber aquilo que queremos para que nossa comunhão se fortaleça.
Mas
voltando à questão em foco, veja que o apóstolo resolve o problema colocando “comida,
bebida e dia” na categoria de “não-essenciais” e pessoais
“Um crê que tudo pode
comer, mas o débil come legumes; quem come não despreze o que não come; e o que
não come não julgue o que come... Um faz diferença entre dia e dia; outro julga
igual todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente”
14.2-3,5.
Era
muito difícil para o judeu que vivera sob a tutela da lei deixar de reverenciar
certos dias, e tocar alguns alimentos. O sinal inconteste da debilidade e fraqueza
deles era defender que tais atitudes contribuíam para a piedade cristã, ou que era
um grande sinal de vida piedosa. Ora, o reino de Deus “não é comida nem bebida”
cf verso 17, por isso, não podemos associar vida piedosa à simples questão de “beber
ou não beber (cerveja)” antes, o reino de Deus, a vida piedosa está associada à
“justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” verso 17.
Pastor,
eu posso tomar uma cerveja? “... Cada um tenha opinião bem definida em sua
própria mente” vs 5 e “cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” vs12. O que
você não pode fazer, porque a Bíblia não te autoriza fazer é inferir que o que bebe
é imaturo e mundano e o que não bebe é santo e piedoso, isso é um equívoco
terrível.
Pastor,
eu posso tomar uma cerveja? Sim, você pode se isso não for causar
constrangimento, escândalo a um irmão fraco na fé. Para que isso não aconteça você
deve evitar fazer isso em locais públicos, na presença de pessoas que não fazem
parte do seu círculo mais íntimo de relacionamento. Não, você não pode se estiver
na presença de fracos e débeis, se isso for motivo de intriga entre você e seu
irmão. Sim e Não é a melhor resposta. Não significa ser hipócrita, pelo
contrário significa ser cristão maduro, preocupado com a fé do outro, significa
ter domínio próprio.
E
por fim, quando menciona o débil e o fraco obviamente o apóstolo não pensava
nos presbíteros, diáconos, estes por exigência do ofício deveriam ser sábios e
fortes. Parece que em nossos dias há uma inversão de “temor”. Tememos ser
surpreendidos pelo pastor, pelo presbítero, pelo diácono, pelo evangelista,
pelo missionário, pelo professor da Escola Dominical e pouco nos preocupamos
com os fracos, com o novo convertido, com os que ainda bebem o genuíno leite, que
apesar de convertidos ainda lutam com o ranço do catolicismo, do misticismo e
etc. A recomendação apostólica é que nos preocupemos com estes, que não possuem
nenhum cargo na igreja.
“Quer
comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória
de Deus” I Co 10.31; “E tudo o que fizerdes, seja em palavra seja em ação,
fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” Col 3:17; “Assim
brilhe também vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras
e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” Mt 5:16.