“No mundo, passais por aflições; mas tende bom animo; eu venci o mundo” João 16.33.
É fato! É fato inegável que homens e mulheres fiéis a Deus têm experimentado aflições neste mundo. As Escrituras, inclusive, nos fornecem fartos exemplos desta verdade.
Mas, num tempo em que as aflições são amaldiçoadas, expurgadas por “fortes” orações; num tempo em que evangélicos esperam encontrar no Evangelho a verdadeira “religião vida mansa”; num tempo em que muitos estão sempre prontos para ouvir a voz de Deus, desde que ela chegue tranqüila e suave e anuncie coisas boas a nosso respeito, encontramos grandes dificuldades em lidar com este tema. Que a leitura deste seja, um avanço para o entendimento adequado do lugar da aflição na vida cristã.
Às aflições eu as chamo de “Escola de Deus”. Sem dúvida, nela aprendemos lições preciosas para a nossa vida cristã. As Escrituras ensinam que as aflições podem produzir muitos frutos em nossa vida cristã, a ponto do salmista celebrá-la dizendo:
“Foi-me bom ter eu passado pela aflição...” Salmo 119.71.
Mas o que é possível aprender quando sofremos, quando somos angustiados, afligidos no corpo e na alma?
Na Escola Da Aflição Eu Aprendo Contentamento
“porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez.” Fl 4.11
A palavra chave para o entendimento deste texto é “aprendi”. Contentamento é um aprendizado, não nasce de uma hora para outra. Mas sim que Deus se vale de algumas situações adversas para nos ensinar a “viver contente”. Contentamento é contrário a nossa natureza.
Somos tendentes à dissolução, ao desperdício, ao excesso, a bebedeira, a glutonaria. Daí o motivo para sermos fortemente advertidos pelo nosso Senhor
“Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as conseqüências da orgia, da embriaguez...” Lc 21.34.
E também do apóstolo Paulo
“Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em ... dissoluções” Rm 13.13.
Foi por viver uma vida dissoluta que o filho pródigo caiu em grande pobreza
“Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente” Lc 15.13;
Eclesiastes 4.8 fala do homem cujo “olhos não se fartam de riquezas”; o Novo Testamento mostra que glutonaria e bebedeira são pecados comuns aos homens, por isso, as advertências “Não vos embriagueis com vinho” Ef 5.18; em Gálatas tanto a “bebedice” quanto a glutonaria estão listados como obras da carne, Gl 5.21; o apóstolo Paulo escrevendo aos efésios diz que não devemos andar como andam os gentios que se “entregaram à dissolução...” Ef. 4.17, 19; Tiago, o irmão de nosso Senhor, diz que por causa da dissolução, do desperdício, do excesso que intenciona o nosso coração ao orar é que não recebemos muito das coisas que pedimos
“Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” Tiago 4.3
Contentamento é mais que uma grande virtude cristã é uma marca do cristão maduro, que aprendeu. Ele deve aparecer na vida de todos aqueles que foram transformados por Cristo Jesus, mediante ação do Espírito Santo e que tendo renunciando o velho homem reveste-se do novo homem.
Em resposta à pregação de João Batista muitos questionaram o profeta sobre como seria sua nova vida, e ele responde a todos, apregoando contentamento, primeiro ao povo em geral, depois aos publicanos e por fim aos soldados dizendo:
“Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo. Foram também os publicanos para serem batizados e perguntaram-lhe: Mestre, que havemos de fazer? Respondeu-lhes: Não cobreis mais do que o estipulado. Também os soldados lhe perguntaram: E nós, que faremos? E ele lhes disse: A ninguém maltrateis, não deis denúncia falsa e contentai-vos com o vosso soldo.” Lc 3.10-14.
“Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma, te deixarei, nunca jamais te abandonarei” Hb 13.5.
De fato, pouco é necessário para o cristão viver contente
“Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes.” I Tm 6.8
Aqueles que passam por privações, devem aprender a ser pacientes e agradecidos, caso contrário serão atormentados com uma excessiva paixão pelas coisas. Os que observam essa moderação têm progredido na vida cristã.
João Calvino dizia que aquele que é impaciente nas privações manifestará o vício oposto quando estiver no meio do luxo. Isso significa que aquele homem que se envergonha de vestir uma roupa simples, manifestará grande pompa quando usar uma mais cara e sofisticada; que aquele que não recebe com gratidão uma refeição singela, demonstrará arrogância quando se deparar com um banquete; aquele que não se satisfaz com uma moradia modesta será presunçoso, orgulhoso e insuportável habitando uma mansão.
Voltando para a experiência do apóstolo Paulo, foram as experiências de fartura e escassez, de fome e abundancia que o “ensinaram” a viver contente independentemente das circunstâncias, por isso ele diz “tanto sei estar humilhado como também ser honrado”. O seu contentamento não estava relacionado às coisas à sua volta, às circunstancias, mas sim no Senhor seu Deus, na Rocha que é Cristo, por isso ele diz “Tudo posso naquele que me fortalece” em outras palavras “posso passar todas as coisas, tanto fome como fartura, abundancia e escassez” porque em toda e qualquer situação Cristo irá me fortalecer.
Encerro este artigo citando ainda o salmo 90.12 “ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio” uma tradução possível e talvez mais clara seria “ensina-nos a levar em conta os nossos dias para que alcancemos coração sábio”. Levar em conta os nossos dias... significa aprender com eles, levar em conta os nossos dias... significa que não passaremos por nada nesta vida sem aprender alguma coisa. Um coração sábio pertence àqueles que levaram em conta seus dias, seus sofrimentos, suas privações, suas aflições, e aprenderam com elas. Foi assim com o apóstolo Paulo, ele aprendeu que podia passar todas as coisas, ao refletir e perceber que em todas as coisas passadas Cristo estava com ele.
Há pessoas que infelizmente não levam em conta seus dias, daí são imaturos, são vacilantes, são ansiosos, temem o amanhã. Esqueceram que Deus é o nosso maior tesouro, que ele preenche tudo e supre todas as nossas necessidades; que nele encontramos paz mesmo no mar revolto; que nele encontramos alegria mesmo na perseguição, aliás esta foi a experiência do salmista quando escreveu:
“Mais alegria me puseste no coração do que a alegria deles, quando lhes há fartura de cereal e de vinho. Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro” Salmo 4.7-8
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