quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Uma Cabana Com Muita Confusão



Fui convidado a ler o livro “A Cabana” de Willian P. Young para futura avaliação. Já fazia tempos que não lia nada do gênero. Li, fiz minhas observações e guardei, agora por ocasião do Blog, registro aqui algumas observações que creio serem importantes.
O livro pode ser classificado como uma ficção cristã. A trama começa com o súbito e misterioso desaparecimento de Missy, a filhinha mais nova de Mackenzie Allens (Mack) durante um passeio. No decorrer das investigações, todas as evidências indicam que Missy tenha sido seqüestrada e brutalmente assassinada em uma velha cabana. A vida de Mack se transforma em uma grande tristeza nos próximos anos. Até que um dia ele recebe um bilhete de Deus que o convida para um encontro na cabana. Atender ao convite é a única maneira de Mack atenuar sua dor.
Chegando a Cabana ele encontra Deus-Pai, Jesus Cristo e o Espírito Santo. Durante os dias de sua estadia na cabana o autor narra vários diálogos que de forma explícita ou não revelam algumas idéias hostis e contraditórias ao cristianismo histórico em pelo menos três áreas: Revelação, o Ser de Deus e Salvação.

1 – A Experiência está acima da Revelação.
Na página 81 é dito que “... nada que [Mack] estudara na escola dominical da igreja estava ajudando” na hora mais difícil de sua vida. Foi preciso que ele tivesse uma experiência sobrenatural para enfim receber alívio. A experiência para muitos tem valor igual ou até mesmo superior a Bíblia. Através de suas experiências eles formulam seus próprios conceitos sobre Deus, salvação, pecado, Espírito Santo e etc. Em “A Cabana” a solução para os problemas e dilemas da vida de Mack aparecem nas experiências extrabíblicas e não através do Espírito Santo falando nas Escrituras Sagradas, na leitura e meditação bíblica. A Cabana nos faz pensar que precisamos de uma experiência revelacional para superar os dissabores da vida quando na verdade precisamos é de iluminação espiritual para entender a revelação que já temos. A Bíblia. A Bíblia é a nossa regra de fé e prática “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” II Tm 3.16-17.

2 – O Ser de Deus.
Em minha opinião este é o ponto onde há maior confusão.
Por várias vezes “A Cabana” nos faz lembrar uma velha heresia do século III chamada de “Patripassionismo” que defendia o sofrimento e a crucificação do Pai. Vejamos, na página 86 lemos “... O olhar de Mack seguiu o dela, e pela primeira vez ele notou as cicatrizes nos punhos da negra, como as que agora presumia que Jesus também tinha nos dele. Ela permitiu que ele tocasse com ternura as cicatrizes, marcas de furos fundos”, mais a frente na página 92 diz que Mack “Olhou para cima e notou novamente as cicatrizes nos pulsos dela” (p. 92). E ainda na pagina 151 “Você não viu os ferimento em Papai também?”.
Uma grande confusão nos papéis de cada uma das pessoas da Trindade no plano de salvação. Em lugar algum da Bíblia somos informados de que o Pai foi crucificado.
A segunda confusão diz respeito a encarnação, página 89 “Quando nós três penetramos na existência humana sob a forma do Filho de Deus, nos tornamos totalmente humanos. Também optamos por abraçar todas as limitações que isso implicava. Mesmo que tenhamos estado sempre presentes nesse universo criado, então nos tornamos carne e sangue”. Uma impropriedade teológica uma vez que somente o Verbo se encarnou, a segunda pessoa da Trindade. 
Terceiro, “A Cabana” embora aparentemente esboce um alto apreço por Jesus, tira dele a exclusividade de ser o único caminho para Deus conforme página 101 “Eu sou o melhor modo que qualquer humano pode ter de se relacionar com Papai ou com Sarayu”, mas quando nos voltamos para a Bíblia encontramos as verdadeiras palavras de Cristo dizendo “Ninguém conhece o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o Pai se não o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” Mt 11.27. E por fim, “A Cabana” erra também quanto a natureza moral de Deus transparecendo que Deus não pune os pecados, que os pecados são seus próprios castigos.

3 – Universalismo prático.
Este diz que todas as pessoas de todas as religiões e credos serão salvos, veja as afirmações nas páginas 168-169 “Os que me amam estão em todos os sistemas que existem. São budistas ou mórmons, batistas ou muçulmanos, democratas, republicanos e muitos que não votam nem fazem parte de qualquer instituição religiosa. Tenho seguidores que foram assassinos e muitos que eram hipócritas. Há banqueiros, jogadores, americanos e iraquianos, judeus e palestinos”, “Não tenho desejo de torná-los cristãos, mas quero me juntar a eles em seu processo para se transformarem em filhos e filhas do Papai, em irmãos e irmãs, em meus amados”. Jesus afirma: “A maioria das estradas não leva a lugar nenhum. O que isso significa é que eu viajarei por qualquer estrada para encontrar vocês”.
            Terminando, é preciso considerar que o livro não se trata de uma obra teológica, caso fosse, seria uma péssima obra. O livro é uma ficção, que trata do sofrimento humano, com uma trama bem montada, dinâmica. O grande problema é que num tempo de frouxidão doutrinária ele pode encontrar um solo fértil para produzir grande confusão.

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