O título deste post é uma afirmação clara das
Escrituras no Salmo 19.7. Mas quais são as implicações disso? O que essa
afirmação significa? Segue alguns apontamentos:
Em primeiro lugar isto significa que ela é a
perfeita revelação da vontade de Deus para o homem. Em contraste com os
escritos humanos onde aqui e ali encontramos apenas certa faísca de sabedoria,
na lei de Deus encontramos a plena luz, a perfeita, e, absoluta sabedoria.[1] Mais que isso, se alguém é instruído na lei de Deus não
carece de mais nada que seja indispensável à justiça, como bem disse o apóstolo
Paulo
“Toda
Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” II Tm 3.16-17.
Repare que ser “perfeito” e estar
“perfeitamente” habilitado para toda boa obra são frutos do uso da lei de Deus
que é útil e perfeita para cumprir o propósito de Deus em nós. A perfeição da
lei sugere ainda que ela é completa, é acabada, não carece de acréscimo, não
está sujeita ao aprimoramento. Via que regra, os homens criam e aprimoram sua
criação, acrescentando novas tecnologias em busca da perfeição. No caso da lei
de Deus o acréscimo não melhora, ao contrário, estraga, corrompe, macula a sua
perfeição.
Em segundo lugar significa que a lei nos
obriga a uma “... obediência pessoal, inteira, exata e perpétua”.[2] Por “obediência
pessoal” entendemos que o cumprimento da lei é de responsabilidade de cada
indivíduo diante de Deus. Não negamos que o contexto social em que vivemos
influencie nosso comportamento, não negamos que o “deus deste século” (I Co
4.4) atue na vida das pessoas de maneira a levá-las a prática do mal, mas ainda
assim, entendemos que somos agentes livres, e que por isso, o principal responsável
por nossos atos somos nós mesmos. Deus mesmo nos ensina que a responsabilidade
nesse sentido é pessoal “a alma que pecar essa morrerá” (Ez 18.4).
Assim, esta responsabilidade não pode ser
transferida à sociedade, ao Estado, às hostes malignas, à situação econômica do
país, ao “sistema”, ou mesmo à condição social do indivíduo, sua família e etc.
Por uma obediência “inteira” entendemos que
aqui não é suficiente uma obediência vacilante e negligente, mas é necessária uma
obediência inteira e completa a todos os preceitos da lei de Deus, e isto, com a
máxima perfeição e com o mínimo grau de pecado, pois “... qualquer que guarda
toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos” (Tg 2.10). A
mais leve desobediência nos condena e diante da lei somos tão culpados quanto
os outros. E esta mínima desobediência é suficiente para nos condenar no
tribunal de Deus.
Por obediência “exata” significa que devemos
obedecer exatamente como nos prescreve o Senhor Deus. Aqui boa intenção somente
não basta, o que vale é o guardar exatamente as palavras, os preceitos e os
mandamentos de Deus. Para aclarar nosso entendimento deste ponto, duas
situações podem ser acrescentadas como exemplos para nós.
A primeira é narrada em Levíticos 10.1-2, com
a morte dos dois filhos de Arão, o sumo sacerdote. Seus filhos, Nadabe e Abiú
foram reprovados e mortos pelo Senhor por apresentarem um “... fogo estranho
perante a face do Senhor, o que lhes não ordenara”. Obedecer exatamente é fazer
aquilo que o Senhor Deus nos ordena, e mais que isso, da forma com que ele nos ordena. Nadabe e Abiú certamente não
atentaram para a forma e ofereceram aquilo que o Senhor não lhes ordenara, por
isso, foram mortos. Deus requer obediência não somente quanto ao fim, mas
também quanto aos meios. De maneira que chegar a um determinado fim que Deus
nos ordenou sem utilizar os meios ordenados por ele é o mesmo que
desobedecê-lo.
A forma com que obedecemos também é
importante.
O segundo exemplo está narrado em II Samuel
6.1-7, quando o rei Davi se dispõe a trazer a Arca para Jerusalém, e no caminho
diz o texto que ao chegarem em
“Nacom, estendeu Uzá a
mão à arca de Deus e a segurou, porque os bois tropeçaram. Então, a ira do
Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta irreverência; e
morreu ali junto à arca de Deus”.
Vejamos as especificações sobre como se
deveria transportar a Arca de Deus: Êxodo 37.1-5 nos diz que a Arca deveria ser
transportada pelos levitas e não por bois, como propôs Davi (Nm 7.4-9); em
Números 4.15 está escrito “... nas coisas santas não tocarão para que não
morra”, Uzá toca na Arca, e a partir daí a boa intenção de Uzá em impedir que a
Arca caísse não foi aceita por Deus, o que Deus queria mesmo era a obediência
exata a sua palavra que dizia ao homem exatamente como fazer, as pessoas certas
para fazer e os meios certos de fazer (Ex 37.10-15).
No contexto de culto acertadamente nos
adverte a Confissão de Fé de Westminster que
“... o modo aceitável
de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado pela
sua própria vontade revelada, que não pode ser adorado segundo as imaginações e
invenções dos homens, ou sugestão de Satanás...” XXI.I
Por fim, a obediência “perpétua” preceitua
que devemos uma obediência eterna a lei de Deus. A Lei de Deus reflete a sua
santidade e perfeição, sendo Deus eterno e imutável sua Lei também têm valor
eterno e imutável. Sendo assim, o que é justo fazer hoje será justo para
sempre.
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